O 23 de setembro é lembrado em todo o mundo como o Dia Internacional contra a Exploração Sexual e o Tráfico de Mulheres e Crianças. Criada em 1999, em Bangladesh, durante a Conferência Mundial da Coligação contra o Tráfico de Pessoas, a data se consolidou como símbolo de resistência e mobilização diante de um dos crimes mais cruéis e silenciosos que atravessam fronteiras.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a ONU, o tráfico de pessoas movimenta mais de 150 bilhões de dólares por ano, configurando-se como o terceiro crime mais lucrativo do mundo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e de armas.
Realidade brasileira: país de origem, trânsito e destino
O Brasil está entre os países que figuram como origem, trânsito e destino de vítimas do tráfico de pessoas. Essa realidade expõe fragilidades estruturais: desigualdade social, pobreza, ausência de políticas públicas eficazes, fronteiras desprotegidas e redes criminosas bem articuladas.
Entre as principais vítimas estão mulheres, adolescentes e crianças, atraídas por falsas promessas de trabalho, estudo ou melhores condições de vida. Uma vez aliciadas, são submetidas a exploração sexual, trabalho escravo, servidão doméstica, casamentos forçados, exploração para adoção ilegal e outras formas de escravidão contemporânea.
Mulheres: as mais afetadas e protagonistas
O tráfico de pessoas atinge sobretudo mulheres e meninas, que representam a maioria absoluta das vítimas de exploração sexual e uma parte significativa daquelas submetidas ao trabalho forçado e à exploração doméstica. A vulnerabilidade das mulheres é ampliada por fatores como a desigualdade de gênero, a pobreza, a violência estrutural e a falta de políticas públicas de proteção.
Fatores de vulnerabilidade
O tráfico de pessoas se alimenta de um conjunto de fatores de vulnerabilidade. A desigualdade social e econômica empurra milhares de mulheres para migrações forçadas e arriscadas; a ausência ou fragilidade de políticas públicas efetivas deixa comunidades inteiras expostas às redes criminosas; o silenciamento das vítimas, marcado pelo medo e pela falta de confiança nas instituições, dificulta denúncias e processos de justiça; e os impactos sobre povos originários, migrantes e comunidades ribeirinhas são agravados na Amazônia, onde o isolamento geográfico e a ausência do Estado favorecem o aliciamento e o transporte de vítimas.
A rota amazônica é hoje uma das mais utilizadas pelas redes criminosas. O tráfico encontra terreno fértil na exploração da pobreza, na ausência de proteção social e na vulnerabilidade histórica dos povos da região.
A Rede Um Grito pela Vida tem se dedicado de modo especial ao trabalho de prevenção e apoio junto às mulheres. Por meio de rodas de conversa, itinerários formativos, oficinas de empoderamento, escuta qualificada e campanhas de sensibilização, a Rede busca fortalecer a autoestima, a consciência crítica e a capacidade de denúncia das mulheres, ajudando-as a se protegerem das redes criminosas e a se tornarem protagonistas da transformação em suas comunidades.
Esse trabalho se estende a mulheres migrantes, ribeirinhas, indígenas e periféricas, que carregam múltiplas vulnerabilidades, mas também múltiplas formas de resistência. Ao lado delas, a Rede atua para que territórios historicamente marcados pela exploração se tornem territórios de cuidado, esperança e vida plena.
Chamado à ação: todos e todas contra o tráfico
A Rede um Grito pela Vida recorda que o enfrentamento a esse crime não é responsabilidade apenas de autoridades, mas de toda a sociedade. É urgente romper com a cultura do silêncio e da indiferença.
- Denuncie: Disque 100 ou ligue 180.
- Acolha e apoie vítimas e sobreviventes, promovendo a reintegração e o cuidado.
- Promova relações de respeito e dignidade, combatendo toda forma de mercantilização da vida humana.
Contra o tráfico de pessoas. Em defesa da vida!
Neste 23 de setembro, a Rede um Grito pela Vida renova seu compromisso por um Brasil e um mundo em que nenhuma mulher, adolescente, criança seja tratada como mercadoria. Seguimos unidas/os na construção de uma sociedade mais justa e fraterna, onde cada pessoa possa viver com liberdade, respeito e dignidade.
Por: Irmã Isabel do Rocio Kuss, cicaf
Coordenação Nacional
Rede Um Grito Pela Vida